Robinho e quando o básico vira extraordinário
Comemoramos (com razão) a prisão de Robinho, mas paremos para pensar: que sociedade é essa na qual precisamos vibrar com o que devia ser básico sendo extraordinário?
Nesta semana comemoramos o básico como sendo extraordinário. Robinho foi preso na quinta-feira (21), em São Paulo, anos após ter se tornado foragido internacional. Foi condenado por estupro na Itália em todas as instâncias possíveis, e mesmo assim estava livre aqui no Brasil. Se escondeu atrás da mesma lei que agora o coloca atrás das grades, lugar no qual deveria estar há um tempo. Era básico, mas precisou que um país todo se mobilizasse para que acontecesse.
Todo não, vamos ser sinceros. Precisou que um movimento gigantesco de mulheres, como bem citou o próprio Robinho nos repugnantes áudios que enviou confessando (CONFESSANDO!) o crime que depois negou. Não fosse as mulheres que insistem, dia após dia, em tentar ganhar um espaço que lhes devia ser dado, e não batalhado, era capaz que ele ainda estivesse solto, frequentando passeatas, churrascos e falando como é uma pessoa de bem. Spoiler: não é.
A prisão de Robinho nos leva a muitos lugares sombrios, incômodos principalmente. Por que nós, homens, nos omitimos tanto quando o assunto são as violências cometidas por nossos iguais? Na mesma semana que assistimos Robinho ser preso como algo extraordinário, quando foi apenas o cumprimento de uma obrigação, vimos também a Espanha precificar o estupro ao dar a Daniel Alves a condição de pagar por sua liberdade provisória.
Gritar é bom, mas cansa
Mulheres, elas sim, conseguiram na base do grito com que Robinho fosse preso. Estão conseguindo, também com esse método, fazer com que pelo menos a parte da sociedade que não tem uma mente doentia que relativiza estupro condene moralmente Dani Alves, já que a Justiça espanhola teima em achar pano para passar. Mas gritar cansa, literalmente. Viver gritando, então, é uma tortura.
Precisamos mudar essa situação. E não é apenas no discurso, mas começando por ele. E mudando atitudes, quebrando paradigmas ensinados durante toda nossa vida. Não é normal que uma pessoa sequer ache OK apoiar Robinho ou Daniel Alves, quanto mais milhares delas. Porque são milhares, literalmente. "Mas… ", "E se… ", "Porém… ". Todo tipo de indagação, invalidação, diante de dois homens condenados, repito e novamente em caixa alta, CONDENADOS, por estupro.
As vítimas foram mais culpadas que os dois criminosos. As jornalistas que falaram incansavelmente disso foram mais xingadas que os dois criminosos. É um sinal sintomático do quanto nossa sociedade está longe, mas muito longe mesmo, de ser civilizada. Não adianta nada evoluirmos em muitos pontos se ainda não conseguimos nos unir às lutas dos outros. Se ainda não conseguimos dar as mãos às minorias. Se ainda seguirmos achando que o futebol é um mundo à parte no qual tudo pode, tudo vale, em nome da diversão, da rivalidade, da zoeira.
Nós comemoramos a prisão de Robinho
Na quarta-feira (20), quando o STJ decidiu o mínimo e, por 9 a 2 (esse dois é um dos absurdos da sociedade que descrevi), mandou prender Robinho, a redação da Trivela comemorou. Sim, comemoramos a prisão do ex-jogador e que agora, pelo menos por aqui, vai ser citado como criminoso. Porque, de algum modo, sabemos que temos parte nisso, com muito orgulho.
Com a Denise Bonfim e a Lívia Camillo, incansáveis na busca por mais espaço para mulheres na sociedade, no jornalismo e no esporte. Duas pessoas pelas quais eu declaro aqui minha admiração pública: vocês me ensinam todos os dias sobre lutar. Os muitos textos delas sobre futebol feminino, sobre machismo, sobre esses estupradores valeram a pena. Se elas mudaram a cabeça de uma pessoa, já valeu a pena. E eu tenho certeza que mudaram de muito mais.
E teve também o Bruno Lima, nosso setorista do Santos. Ele não descansou até que o Robinho fosse condenado devidamente. Foi dele, inclusive, o furo de que o criminoso participou de um churrasco no seu ex-clube quando ainda era fugitivo internacional. Nos emocionamos, todos da Trivela, quando soubemos que "pegou mal" no STJ essa participação dele no evento. Foi mais uma colaboração que pudemos fazer.
Porque jornalismo sério é isso: é cutucar quem não quer ser cutucado, é falar o que muita gente não quer ouvir, é apurar incansavelmente atrás da verdade, doa a quem doer. Nesta semana, o jornalismo e as mulheres respiraram um pouco. Pena que foi quando o que devia ser básico acabou sendo extraordinário.
Tem uma Data Fifa no meio do caminho
Saindo um pouco da editoria crime-futebol e vindo apenas para o esporte, estamos em plena parada para Data Fifa. É até estranho que os jogos aqui no Brasil tenham parado mesmo, tão acostumados que estamos a sermos obrigados a ver times desfalcados entrarem em campo. Pelo menos neste primeiro momento, a CBF e as federações estaduais tiveram um bom senso que, já sabemos, faltará na disputa da Copa América.
Mas vamos lá: o Maurício Noriega listou os jogos que, para ele, vão ser imperdíveis nessa parada. E, realmente, tem muita coisa boa vindo por aí na TV. Você pode ler o texto do Nori clicando aqui e nos contar quais dessas partidas você está ansioso para assistir. Brasil? Inglaterra? França? Argentina? O que não faltam são boas opções.
Isso foi o mais legal da semana na Trivela:
Abrimos a semana com um textaço da Livia Camillo falando sobre quão significativo foi a Leila Pereira ter sido escolhida como chefe de delegação da Seleção para esta Data Fifa. Acertou na mosca, e a presidente do Palmeiras nem havia dado suas declarações certeiras sobre os criminosos Robinho e Daniel Alves. Recomendo a leitura, que você pode fazer clicando aqui.
A Data Fifa nos fez pensar: a Seleção Brasileira vive uma fase péssima. Pensando nisso, o Lucas de Souza fez uma lista que deu o que falar com 10 jogadores desprezados pela Canarinho em seu auge, mas que seriam titulares (ou nomes certos nas listas) se estivessem atuando em sua melhor forma atualmente. Veja aqui a lista e deixe seus comentários.
O Eduardo Deconto está em Londres fazendo a cobertura da nossa Seleção na Data Fifa e visitou o CT do Arsenal, onde o time está treinando. Nos trouxe uma lição bem legal sobre equidade, já que os Gunners dividem o espaço entre seus times masculino e feminino, com muito destaque para as conquistas e glórias delas. Clicando aqui você consegue ver a notícia.
Seguindo no assunto Data Fifa, fizemos a tradicional lista de estreantes em suas seleções. O Carlos Vinícius Amorim pegou os principais jogadores que vão jogar por suas seleções pela primeira vez e os listou em um artigo que você pode ver clicando aqui.
O Caio Blois foi à coletiva que o Fernando Diniz usou para pedir desculpas à torcida do Fluminense e coletou vários bastidores que explicam essa movimentação do treinador tricolor. Você pode entender essa história toda aqui.
Por fim, mas não menos importante, o Lucas de Souza dissecou a queda brusca que o São Caetano viveu e culminou, nesta semana, com o rebaixamento para a quarta divisão do Campeonato Paulista. Veja, clicando aqui, a matéria.
Foi uma semana e tanto, puxada, com vitórias e derrotas, mas que valeu a pena. Como espero que tenha valido a leitura da newsletter.
Aproveitem a Data Fifa sem parcimônia e muito obrigado,
Leonardo Sacco
Coordenador de conteúdo da Trivela
Poderiam colocar mais informações no feed. Ficar clicando para endereços fora do substanck é um pouco chato.